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Este blog contém alguns escritos de 2006 e só.

Sonnetto Sensuale

Teu gosto tem um charme lascivo
De tempero travesso
Um paladar libidinoso
Sensual e crapuloso

Teu sabor é de feitio devasso
De temperamento deleitoso
Tem ornamento libertino
Ao agrado licensioso

Tua graça é ímpio
Tem fervor íntimo
Em condimento impudico

Tua carne em volúpia
É adubo obsceno
Para polínico lúbrico

Corrupto

Vesti meu melhor terno azul, de sangue
Perfumei-me com veneno do mais belo frasco
Mastiguei as pétalas e colhi os espinhos
Enxuguei o suor das narinas
E vaguei pelos lixões a bailar teu nome

Susurrei palavrões ao megafone
Cuspi lágrimas e entorpecentes
Morri de um pecado sincero
Vivi um pesadelo lindo e puro

Saltei pelas pedras esfumaçadas
Desenhei teu nome em matadeiras
Gozei no mais alto silêncio

Dormi em caixão lúbrico
Acordei preto em dissoluto

Perdi versos na primeira pessoa

Você é sua bússola e seu caminho

Imagine que o mundo é um grande imã. Coincidentemente, ou não, ele é. Agora, em porte desta valiosa informação, acredite que o impossível só não é possível para os céticos e que o planeta sendo uma imensa fonte oval de puro magnetismo, tudo e todas as coisas estão ligadas em duas sintonias distintas: A negativa e a positiva.

Talvez você, cara leitora (ou leitor), deva ter pensado na teoria de "os opostos se atraem", mas não é disto que estou falando, quero ir mais além, então siga comigo.

O mundo é um imã (ponto). Todas as coisas do mundo estão ligadas pelo magnetismo (ponto). Existem dois tipos de sintonia magnética, a negativa e a positiva (ponto). Em qual delas você se encontra neste momento(interrogação)?

É fato, alguns seres humanos têm hiper-sensibilidade, intensificada através de algum tipo de entorpecente ou alucinógeno talvez. Você cara leitora (ou leitor), tendo ou não usado algo deste tipo, por acaso alguma vez não já se sentiu em total harmonia com a natureza?

É disto que eu estou falando...

Mesmo que a vitória seja apenas um sonho, não acorde.

Provocar

Resolvi tentar um pouco mais de desejo. Entragar-me sem saber qual dia da semana será o dia depois de amanhã. Sentir calafrios, sabe?

Passei muitos minutos da minha vida esperando pelas horas e sempre que achava que iria dar tempo, faltava sempre mais um minuto... e mais um minuto e assim ia.

Não. De certo, resolvi tentar um pouco mais de desejo. Alimentar a morte, sabe? Ir mais a fundo, querer mais além, soltar mais o cabelo, cruzar e descruzar mais as pernas.

Provocar...

Jazz em mim

Você que passa
Com tanto charme
Toda enxame
E jazz em mim
Desconcertada
E provocante

Faz-me lembrar
Um retrato mofado
Uma parte do quarto
Um livro na estante
E jazz em mim
Insinuante

Mesa de Bar

Numa mesa de bar
Um mundo é verso
Não parece o ser
O que não tem necessidades

Numa mesa de bar
O verso é pensamento
Conjunto ou solitário
Tranverso ou convexo

Numa mesa de bar
Mágoas são o fundo de qualquer copo
A cerveja gelada a estalar
A tampa a libertar
Libertinagem de tentar encher o vazio

Numa mesa de bar
Tangente é o sóbrio
Desejo de se embriagar

Mosaico

Voltei
Para te tomar em café
Sem cigarros
Pois para mim
Seus poemas doem demais
Acho que perdi a sensibilidade e a alma

Meu bem
Aviso como anônimo amigo
Esta não se perde
Nem ausente, muito menos machucada
Com o tempo
Tudo será brilho e esmeralda

Mas eu não sou mais assim
Entre as minhas e as suas
Escolho você
Pois é a mais bonita

(para as pessoas do comentário anterior)

Semente e Ventre

Sonho em desejar você todas as noites
E se um dia desistisses de provocar as estrelas
Elas te diriam dos meus sonhos mais doces

Lá no íntimo eu
Personagem complexo e paradoxo
A simplicidade é uma taça de cristal fria

Momentos refletem e surgem
Encontro seu corpo em meu pensamento
E nos misturamos em pecado amoroso
E nos tornamos uma única carne

E somos pelo fato de existirmos
Tanto de um, quanto do outro

Semente e ventre
Gosto e saliva
Suor e lágrima
Cheiro e perfume

Não existe no mundo
Beleza tão bela
Quando o desenho nu da tua pele

Emaranhados

De cima, olho meu corpo inteiro
E nem sinal daquela tal reflexão

Subo mais alguns degraus
Na esperança angustiante
De encontrar um tal olhar
Teu que seja meu

E a saudade tem gosto prematuro de sangue
Antes, tinha gosto amargo de álcool

Meio Soneto Paradoxal

Nunca sóbrio
Porém esperto
Sempre ébrio
Nunca ódio

Sempre Errado
Quase certo
Meio paradoxo

Soneto das Segundas-Feiras

Talvez não mostre
A dor que eu ame
Esperando assim
Que o tempo cure

Ou talvez não sinta
O amor distante
Ou talvez minta
Não me pergunte

De certeza confirmo
Eu não sinto
O amor de antes

Mas em relances
Desejo-lhe errante
E isto afirmo

Mea Culpa

Minha culpa foi apenas tomar dois sucos de frutas
Mas o barman insistia em derramar vodka

Eu
Filho santo que sou
Nunca fui de negar nada
Aproveitei a oportunidade cedida
E sentei-me na cadeira do balcão

Eis que ela surge
Maravilhosamente linda
Bem diferente desta poesia

E jogou seus cabelos
E seus encantos
E a fumaça de seu cigarro em meu rosto
E me enbriagou com o cheiro de sua pele
Ou talvez com o olor de cachaça que saia da sua boca

A moça
Depois de beber alguns martinis
Conduziu-me gentilmente à pista de dança
E ali ficamos a bailar noite a fio

Compra-se fígado e um par de sapatos novos

I -

Ela: Não...
Ele: Sim!
Ela: Sabe o que é?
Ele: Não...
Ela: Assim...
Ele: Sim?
Ela: Não!!!


II -

Ele: Isso...
Ela: Assim?
Ele: Vai...
Ela: Calma...
Ele: Mais?!
Ela: Isso! Mais! Vem...
Ele: Mas...


III -

Ela: Não, pára...
Ele: Não...
Ela: Pára...
Ele: ...
Ela: Não pára!


IV -

Ele: Hmmm...
Ela: Ai... não... pára... vai... vem...
Ele: Hmmm...
Ela: Você tem...
Ele: Tenho...

Multiplique o Vento

Multiplique o tempo
Equilibre o vento
E faça tudo que há

Se sou pensamento
Não há quem sendo
Verso o tempo estar

Mas se o tempo é
Pensamento aqui
Por que continuar

Eu continuo há tempo
O vento sopra e venho
E de certeza vou voar


Por Beto Brito, Artur Finizola e Jr. Negão
em 28/10/2006 no bar Casa Amarela
após show dos Los Hermanos
(Maceió, AL)

Balanço

Mesmo que o homem não queria
O barco na água
Segue o balanço das ondas

É pra isso que ele vive
Para as venturas do mar

Mesmo que o homem não veja
Sem balanço não há rede
Sem rede não há peixe
E sem peixe não há certeza

É na magia que mora a ternura
Imagine um barco que voa
Pois até mesmo o vento
Gosta do balançar

É para isso que ele vive
Para soprar os cabelos das moças
Para regar as flores dos campos
Para levar o pólem
E lavar a alma

Num tango balanço
Numa valsa romântica
Num simples sambar

Soneto do Ser

O homem precisa
Ser humano
Pra ser moderno
E depois contemporâneo

O homem precisa
Ser fulano
Pra ser ninguém
E depois nascer quem é

O homem precisa
Ser mundano
Pra ser romântico

O homem precisa
Ser veterano
Pra saber morrer em pé

Gafieira

O tempo entregou
De graça a bandeira
- Quem foi que falou?

O pato botou
O ovo e a ladeira:
- Pronde foi que rolou?

Na feira
A nêga brigou
E o vendedor deu laranjeira

Foi o homem ou foi Deus:
- Quem foi que inventou esta bobeira de amor?

Moema - Parte F: O Castelo da Solidão

Anura finalmente entrou no castelo de vidros e espelhos e começou a andar pelos longos corredores em busca de sua, até então, amiga imaginária. Mas o castelo era traiçoeiro e a cada passo, o sapo escritor via uma imagem distorcida de seu passado, às vezes ruim, às vezes boa de mais e aquilo tudo trazia saudade e esta trazia consigo dor.

Ele sabia que não seria fácil e que o caminho seria cheio de armadilhas perigosas e mesmo que aquilo tudo doesse como estilhaços em seu peito, educado pela santa mãe natureza, nosso herói continuou por meio de seus devaneios e assim passeou por fios de cabelos, gostos, cheiros, pêlos e beijos. A dor, de tão forte, até parecia indolor: estado vegetativo. Após muitas lembranças, angústia, desespero e raiva, ele bate numa porta de vidro fosco, esta se abre e ele entra pelo aposento. Bem no meio se encontrava Moema em sua forma feminina mais atraente.

A sala que os dois estavam era escura, mas podia se ver bem cada detalhe de todos os objetos. O chão era feito de calçada de praça antiga; as paredes eram decoradas com livros, discos e vinhos; no meio havia um tapete vermelho com bordas douradas que ligavam as duas únicas portas que poderiam ser usadas como saídas, uma no lado oposto da outra. Alguns outros objetos menos interessantes havia ali, mas o silêncio da observação foi quebrado pela moça:

- Você veio.
- Não sabia se devia, mas eu vim. Vim te contar uma história de ninar.
- Por favor, chegue mais perto.
- Não, está bom assim.

E Anura começou a narrar sua história e falou sobre uma indiazinha que sempre sonhava que era borboleta e sempre que esta indiazinha dormia, sempre embaixo da mesma palmeira, um pequeno sapo com o dom da palavra ia até seu ouvido e narrava as aventuras mais doces da linda borboletinha amarela. Disse que o sapinho gostava também de cantar uma melodia bonita que era para quando ela acordar, ficar com aquilo tudo em seu peito.

- E o sapo virou amigo da tal indiazinha? – Interrompeu Moema.
- Ainda não sei. Ele veio procurar por ela. Mas tudo é muito confuso e ela criou um mundo de imagens distorcidas e se trancafiou dentro dele, formando ao seu redor um grande labirinto. Ela já está nisso há muito tempo.
- Eu acho que você a achou... - Falou Moema meio sem jeito.
- E o que falta agora?
- Não sei. E o que falta agora?

O diálogo foi interrompido pelo silêncio e este por pequenos sorrisos. Os dois finalmente haviam se encontrado, não importava mais o que faltava, só era preciso andar, de preferência juntos. Então Anura toma fôlego e coragem, salta algumas vezes se aproximando e ouve de Moema:

- Contador de histórias...
- Princesa Moema... – Ele responde e convida – Conheço um lugar onde podemos colher ótimas cerejas, vamos comigo?

Moema olha para o longe, olha ao redor e para os espelhos. Ele percebe que ela chora um choro sem lágrimas e acaba pensando um pouco alto:
- Cheguei um pouco tarde.

Ela confirma com um gesto de cabeça e mesmo assim ele insiste:
- Vamos às cerejas?

Ela fala:
- Espera. Sou vou aqui resolver algo...

Ela se afasta um pouco, conversa com alguns espelhos, atravessa o tapete vermelho, abre a porta de vidro negro e some. O resto foi bem pior que a falta de qualquer coisa que já tenha existido: A lembrança de algo que nunca vai existir.
- Fim? -

Moema - Parte 3: Em busca da fantasia perdida

Estava frio e Moema escrevia alguns pensamentos nos vidros de sua janela, mas não obtinha nenhuma resposta. Nem sabia exatamente o que queria. Ou sabia, mas sabia que não podia. Aquilo estava deixando-a confusa e exausta e já fazia alguns dias que ela não conseguia falar com o sapo escritor sobre suas desventuras de amor.

Do outro lado, no mundo real, Anura sentia certa angústia batendo em seu peito. Ele sabia que não devia, mas correu de volta pelo caminho que há alguns dias ele fugia com tanta veemência.

Quanto mais adentrava em sua jornada, mas sentia na pele dores e pontadas. Com o tempo, descobriu se tratar de palavras e imaginou que fosse princesa Moema tentando lhe escrever alguma notícia do mundo das fantasias. Puxou seu caderninho e lhe perguntou o que seria. Não obteve resposta. Algo estava fora de sintonia...

Até que gotas caíram do céu como raios cheios de força e eletricidade, Anura pulou para um lado, pulou para um outro, encostou-se a uma árvore e ali ficou a pensar no que estaria errado para haver tanta nuvem negra lá no alto.

- Nuvem... O castelo das nuvens - Era dali que vinha tanta chuva, talvez fosse ali que a garota dos rabiscos em seu caderno morasse. Assim ele pensou.

Então Anura criou coragem e foi subindo pelo temporal, escalando-o gota a gota, até chegar à primeira nuvem e daí para segunda e terceira, chegando à porteira do magistral castelo de espelhos.

Moema - Parte 2: A fuga e a felicidade

Anura corria em direção ao primeiro lugar mais longe possível. Em sua memória existia todo o costume de seu habitat natural. Entre uma passada e um pulo, uma pegada e uma poça, sentia que nada mais seria como antes. De mala e cunha, e o medo agarrado entre os lábios, ele fugia como um touro daltônico em direção ao vermelho.

Finalmente chegou a um lugar desconhecido qualquer, onde se sentia parcialmente seguro. Ali acampou. Puxou da maleta um pequeno caderninho e lapidou alguns próximos versos. As letras, a luz da lua cheia, as sombras das folhas e as linhas do papel, da posição em que se encontravam seus olhos, formaram a imagem de uma moça debruçada em uma janela. E a tal moça morena sorria, mas não um sorriso inteiro, lá dentro de seu sorriso faltava alguém.

Então foi só o pensamento criar asas e Anura podia ver claramente, que aquela moça desenhara um projeto arquitetônico quase perfeito e mandara construir tudo aquilo em algodão feito de céu. Ele sentia o que ela sentia, talvez ela não soubesse, mas com certeza ele sabia.

E assim foram as imagens em seu caderno, página por página. Até que os rascunhos viraram rabiscos e surgiu a primeira palavra:

- Oi!!
- Oi :) - Foi sua resposta, segurando o susto na garganta.

- Tudo bom?
- Tudo sim?

- Cadê que nunca mais te vi?

Anura pulou para trás. "Como assim nunca mais me viu?" - Pensou olhando para aquele diálogo nas linhas de seu pequeno caderno - "Ela sabe quem eu sou?”

- Quem é você? Como é seu nome? Onde você vive? - Perguntou ele em seqüência absurda, mesmo que de certa forma já soubesse.
- Chamo-me Moema e vivo no mundo dos sonhos.
- Já andei nesse mundo e tudo era lindo, mas não sei se quero voltar.

O diálogo varou a madrugada, os dois se gostaram, talvez só como amigos. Falaram do justo e do injusto, dos desejos e de suas coisas preferidas. Não falaram de beijos, mas falaram muito de almas queridas.

Alguns dias depois, após longa noite de sono, Anura acordou e veio seu primeiro pensamento:
- Talvez só como amigos?

Moema - Parte 1: Prólogo

Moema sempre que saia pro rio, deitava ao lado da palmeira mais alta e ali descansava horas a fio. Longe de seu povo, seu mundo se transformava na beleza mais doce, na ingenuidade infantil que algumas pessoas de 20 anos ainda conseguem preservar. Neste dia não foi diferente. Ouvindo a brincadeira dos peixes e o canto dos pássaros, Moema dormiu.

Nos primeiros dez minutos, sonhou que em uma outra vida nascera em forma de borboleta, com asas que mais pareciam pétalas de flores amarelas, daquelas de se enfeitar o cabelo e derreter qualquer rapazote desta e de qualquer outra região.

Sendo borboleta, Moema voou delicada por toda a floresta e passeou pelas plantações de morango, até chegar ao Vale das Macieiras e ali descansou, feliz de ser a representação divina de toda a sutileza e perfeição da natureza.

Foi assim por mais três quartos de hora. Entre um suspiro e um sonho, entre um rosto repousado nos braços e um sorriso de olhos fechados: felicidade. Moema não queria mais acordar, sentia-se rainha de toda a primavera. Até que ouviu um cantar estranho, uma melodia bonita e suave ao pé do ouvido, estranhamente ela se sentia protegida e quis perguntar: “Quem é você que canta como cantam meus desejos?”...

“Eu sou o anjo que toca teus cabelos enquanto você dorme, que te acaricia e te faz sonhar. Eu sou o anjo que te suspira felicidade, mesmo que teus olhos carnais não enxerguem. Eu sou a reencarnação do que um dia foi teu ventre, sou tuas sílabas, teus versos e tuas palavras. Eu sou você ontem e te fazendo feliz por todo um amanhã” – Foi a resposta.

Não mais sendo uma borboleta, mas continuando dormindo, imaginou-se princesa num castelo entre nuvens e fantasias. Lá, em meio às paredes de tijolos feitos de vidros e espelhos, Moema se sentia zonza por ver apenas o reflexo de suas vontades. O sapo escritor, a quem nossa heroína consultava sobre as histórias do amor, vivia a galantear sonetos de admiração. Moema lia, mas não entendia. No castelo dos sonhos, nem tudo era alegria.

Lembrou-se o sapo de certo diálogo com seu amigo Canário:
- Cuidado canarinho bonito, cuidado ao cuspir para cima!
- Mas é preciso cuspir, meu caro. Não importa o lado.

Sobre

Poeta:
É aquele que tem o dom
De fingir que não sente
A dor que fingi sentir

O sonho do poeta:
Ou é uma mentira doce
Ou uma verdade em fel

1º ato

Numa madrugada fria de sexta
O homem sente toda sua verdade-essência

Os pandeiros anunciavam
A procura do primeiro cabaré aberto
Mas o verso é frio
E as ruas não solidárias
Traduzem toda a falta de sentimento

As ruas
Tão solitárias
Mais parecem meninhas de saia
Causando inveja
Naquelas que realmente sentem o desejo da orgia

A verdade é que os puteiros
Eles não suportam a concorrência

- EmVerso -

Moema continuava prestar atenção nos versos
Seus sonhos...
Lembranças do desejo de uma vida não vivida

Acordou
Desejou ser nele
A vontade de ser interamente livre

Como um soneto
Em todo seu esboço métrico
Como a melodia na boca
Do casal na janela em frente

Com o tempo
(E isso é certo com a fúria de quem ama)
Olhar para os lados pode trazer corrente felicidade

a dança e a liberdade

(para ser lido em pagode sincompado na casa de mi)


Quando você souber
Que eu já sou de alguém
Vai se arrepender
De eu não ser teu bem

Nada mais será igual
Vai se sentir ninguém
E eu com tua rival
Vou desejar além

Será que vale a pena
Tanto nhem-nhem-nhem
Tanto sinto e não sinto
E tanto desdém?

Eu vou te encontrar num bar
E você estará dançando com alguém
Que nem sabe o teu nome

E eu estarei sentado a te observar
Rindo dos ciúmes de quem ao meu lado está
Verdadeira liberdade meu bem
É saber com quem dançar

Será que vale a pena
Tanto nhem-nhem-nhem
Tanto sinto e não sinto
E tanto desdém?

Jogarei fora aquele anel?



Andei por todas as calçadas desta cidade
Virei e revirei cada esquina
Troquei tapas e insultos com alguns desconhecidos

Fui expulso do coletivo
Obrigado a andar sobre o chão quente
Sob o Sol áspero

E todos os caminhos que tomei
Levaram-me retilínio onde você não estava

Faz-me

1 -

Ando tão cheio de idéias nas pernas
Que vivo tropeçando nas nuvens


2 -

Deixei meu corpo deitado na posição de morrer
Ainda assim faltou foi fôlego

Deixei minha camisa rasgada na cômoda do teu quarto
Ainda assim você veio e em mim, abriu as persianas

Deixei os retalhos guardados em meu ventre
Ainda assim não se sente
Ou cama... ou ama devagar

Agosto tem cheiro, tato e nome

A madrugada fria anunciava os versos:
Somos ser pelo único fato de existirmos estar

A madrugada fria anunciava os versos:
E se a terra tão medonha fosse engolida por um maremoto daqueles de assassinar palavras?

O homem é apenas o espectro de sua própria ignorância:
Rude como um sinônimo
Delicado como uma rima

Os fatos existem para serem degustados em sal a gosto:
Ou seria em agosto que tudo voltaria a ser salgado?

O verso frio enunciava às madrugadas:
Sangue, suor e lágrima
Saliva, baque e fumo

Dia Santo

Uma mulher finge ser Deus
E te abre as portas do inferno

Ela


A mão percorria todo o delinear do corpo. Afagava em unhas, arrepiava em calafrios dormentes e excitantes. Subia pelo pescoço, acariciando a nuca, tocando os brincos no ouvido, beliscando as bochechas, desenhando os lábios, abrindo os olhos em semi-cerrados, despenteando o liso do cabelo.

Descia com apenas um dedo por entre os seios, apertava a pele, incitava o desejo, destrancava gemidos delgados, arranhava o ventre, entoava a mente.

Ela era mulher, se sentia mulher enquanto a coxa espessa se agitava com a presença do rigor da mão em seus pêlos. Gemidos poucos envergonhados preenchiam todo o silêncio de todos os quase 17 minutos atrás. Os olhos viravam, o corpo tremia, ela se apertava e deseja em ânsia absoluta viver cada segundinho daquele da maneira mais intensa possível.

Uma lágrima desceu por um de seus olhos. Os dentes oprimiam o lábio inferior já meio machucado. A boca se abria, respirava e tornava a se prender em uma total sintonia. Os seios sorriam, o busto inflava e inflava, tornando aquela visão cada vez mais linda. Os lençóis já não mais existiam...

A mão parou de tocar-se, o rosto todo se abria, as pernas relaxavam, a mão subia. O corpo jazia imóvel em um misto quente de êxtase e felicidade. Aquilo era bom, sem dúvida alguma... ela sabia. E ah... como sabia.

Crime Perfeito

Não há castigo
Mesmo que imperfeito
Para um crime perfeito

Se somos sujeitos ao acerto
Admiramos e repetimos o nosso erro

Personagens

Estava muito bem sentado sob o ar-condicionado do ônibus da linha José Tenório - Iguatemi, como de costume, fiquei analisando as personalidades existentes dentro do coletivo. Dessa vez, chamou-me a atenção o cobrador com seu jeito desenrolado com alguns passageiros. Continuei a visualizá-lo.

Sobem, então, 3 alunos do CEFET-AL na condução, dois garotões e uma gatinha. Um dos garotões conhecia o personagem do cobrador, entregou-lhe um confeito e bateram um papo rápido. O grupo recém chegado acomoda-se próximo a catraca e inicia uma conversa sobre livros, quando o personagem do cobrador pergunta a um deles: Quantos livros do Graciliano Ramos você já leu?

E o moleque responde: Já li Vidas Secas.

O cobrador retruca: Não perguntei quais livros, perguntei quantos. E continua: Tanto autor brasileiro bom, tanto autor alagoano bom, você tem que se ligar...

Neste momento meu peito se encheu de orgulho, imagina só... Um cobrador de ônibus ensinando a um aluno de uma instituição federal que existe uma produção artística alagoana e esta merece o seu valor, por mérito.

O próximo ponto de parada era o meu, levantei, puxei da bolsa um livrinho com uma produção literária da banda alagoana Dona Maria e entreguei ao cobrador dizendo: Vi você comentando sobre autores alagoanos...

O personagem cobrador agradeceu sorrindo, desci do coletivo do mesmo jeito. Ao dobrar a esquina presenciei um pedinte correndo à porta do motorista de uma ambulância velha, dessas de interior, o motorista lhe entrega algumas moedas, o pedinte agradece e se vira. Logo o personagem motorista chama-o novamente. A senhora do carro do ano preto ao lado, viu a cena e puxou uma nota de 1 real.

A Virgem


Clarrisse olhou para cima. Não entendia bem o que havia acontecido, tentava se apoiar no vento. Ação em vão para levantar-se. Continuou caída, agora recobrando os sentidos. Havia sangue em sua saia branca e justa, não mais transparente por causa da mancha que subia entre suas pernas. Lembrou-se da dor, dos apertos nos braços e do bafo de cigarro daqueles mata-rato. Em coisa de um segundo, desejou ser apenas um pesadelo. Voltou a realidade.

Clarisse chorava contida, envergonhada de seu próprio corpo, de blusinha rasgada e tudo que não lhe cabia direito (em todos os sentidos). Sentia ainda na pele o corpo quente de seu agressor e as palavras torpes ditas ao pé do ouvido, sentiu-se enojada.

Um homem velho, alto e barrigudo, de barba mal feita e cheirando a sovaco. Lembrou-se, com perturbação moral pelo receio do ridículo, que fantasiara algumas vezes vivenciar um estupro, talvez até duplo. Mas não seria daquele jeito, sonhara com um homem bonito, cuja voracidade a deixaria excitada, a dor seria prazer fulmegante e não deixaria rastros de sangue. Qual mulher nunca pensou nisso? Fetiche...

Infelizmente Clarisse percebeu do pior jeito possível que algumas coisas não devem ser sonhadas. Desejou morrer, a dizer a seu namorado que perdera a virgindade.

Ponta de Faca

Na ponta da faca havia um reflexo negro. Eram os olhos da Saudade. Admirava-se no desejo de contorcer mais um peito amargo e solitário. Mas Saudade também era filho do homem e por assim ser, também sentia toda a angústia de sonhar estando nua, sem suas véstices pretas, vestigo longo até pouco abaixo do joelho, mas não era o que vestia... vestia-se apenas de ócio fumado pelas narinas e a vontade contínua de furar-se.

A faca entrou pela beira da carne, fez um ruído estranhamente conhecido no íntimo da víscera. Foi retirada como uma bala que sai do peito de um homem engavetado nas geladeiras dos seriados americanos. Onde esteve toda a farsa de acordar do mundo e se aliviar por ainda estar vestida?

Sigilo das sanguessugas

Pois deixe-me dizer uma coisa: meus dedos doem e os ligamentos se rompem e mesmo assim, sinto EU enquanto SER só e NÓS, enquanto VÓS insisteis em conjugar os verbos de maneira inapropriada.

Somos a pílula da balança sem tom da Causa Morte. O ego é só um espelho convexo refletindo a imagem distorcida pelo ponto foco correto.

Casei-me com minha própria sombra, meus filhos me chamavam provisão. Fiz o máximo pelas pessoas que eu nunca conheci, a elas dei minha sede e minha fome, dei meu lanche de meio expediente, dei minhas toalhas para serem lavadas e minhas verrugas para serem digeridas.

Suei como quem transa, em transe, digo. Zuei como quem tranza, em tranze, digo.

O fato de ser secular, não quer dizer que seja segundo, nem terceiro, nem inteiro de um século. Sinto-me leiga, vetusta, mundana. E esta última me faz ainda sentir promíscua e desajeitada. Se mulher eu fosse.

Casei-me com minha própria sombra. Exatas meia-noite de ontem.
Principais Notícias:

Quebra de sigilo das sanguessugas.

Sim, eu gostava.

Ele me pegou no colo e beijou forte na bochecha, fazendo-me sentir cócegas devido aquela barba crespa tocando sutilmente meu rosto. Desabrochou sorrisos e mais sorrisos e eu ali, somente respondia de boca aberta de quem está se devertido. Então ele olhou-me nos olhos e me disse que era dele, todinha e que ia fazer comigo coisas que eu nem entendia direito, mas que eu gostava de ouvir, talvez pela pureza que ele transmitia no olhar enquanto falava. Sim, eu gostava.

Então ele me punha no berço e me levava para passear pelas ruas do bairro. Quando eu olhava pra cima, ele parecia mais homem, mais tarde vim descobrir que o nome daquilo era orgulho, orgulho de mim lógico, mas eu nem sabia, só gostava. E ele falava uma língua estranha com pessoas e depois essas pessoas vinham fazer caretas e gestos com a boca. A maioria me cuspia toda e depois me chamavam de chorona. Mas quem não iria chorar com uma monstra do pâtano toda despenteada cuspido e rosnando pra gente.

Eu gostava mesmo era do meu pai, ele sim sabia conversar comigo. Dava-me mil beijinhos toda de manhazinha e a noite voltava sempre com os olhos da saudade. Sim, eu gostava.

Máscara nº1

Somos muito mais que a caricatura de alguns versos
Somos palavras desenhadas no tempo

Uma dia
Num único vão momento
A discórdia falou para a benevolência
Tu sois muito educada e ainda vai se ferir
Magoada, benevolência concorda com discórdia

Passaram-se o vento, o pó e as nunvens:
Discórdia, sois apenas um grito
Um sentimento de angústia em efeito dominó

Discórdia retruca:
E tu, o que sois?
A máscara da bondade?

Não
Eu sou o céu e o inferno
Depende somente de por qual burcado do nariz você respire

Jazeu: A menina dos sonhos de hortelã


Boatos são:
O caos agindo de maneira organizada.

Ela chegou com a nuvem do azar acima da cabeça, como um chapéu de sol furado, por onde desce os pingos d'água. Fazia tempo que se via aquela cena e cada vez mais se apertava o nó do peito, toda vez que entrava em casa. Limpou os chinelos no tapete pelanco da porta da cozinha, repousando-os atrás da grade da geladeira, cortou uma fatia de bolo imaginário como quem quer alegrar o fome. Quem não tem comida, sente só o cheiro do tempero.

Abaixou até o balde com um caneco vermelho, vlup pra cima, glup pra baixo, banhou-se como se fosse apenas uma falta temporária. Pelejou alguns rabiscos num papel que trazia da rua. Folheou um pequeno caderno de retratos desses com a paisagem mais bonita da cidade estampado na capa, como se zombasse toda a tristeza da situação. Enxugou o olho esquerdo, dizendo a si mesmo que era só um cisco.

Um cisco de 7 anos que insistia em incomodar todas as 21h e 14min das noites de segunda-feira. Despencou para trás de cansaço. Jazeu como quem dorme.