Estava muito bem sentado sob o ar-condicionado do ônibus da linha José Tenório - Iguatemi, como de costume, fiquei analisando as personalidades existentes dentro do coletivo. Dessa vez, chamou-me a atenção o cobrador com seu jeito desenrolado com alguns passageiros. Continuei a visualizá-lo.
Sobem, então, 3 alunos do CEFET-AL na condução, dois garotões e uma gatinha. Um dos garotões conhecia o personagem do cobrador, entregou-lhe um confeito e bateram um papo rápido. O grupo recém chegado acomoda-se próximo a catraca e inicia uma conversa sobre livros, quando o personagem do cobrador pergunta a um deles: Quantos livros do Graciliano Ramos você já leu?
E o moleque responde: Já li Vidas Secas.
O cobrador retruca: Não perguntei quais livros, perguntei quantos. E continua: Tanto autor brasileiro bom, tanto autor alagoano bom, você tem que se ligar...
Neste momento meu peito se encheu de orgulho, imagina só... Um cobrador de ônibus ensinando a um aluno de uma instituição federal que existe uma produção artística alagoana e esta merece o seu valor, por mérito.
O próximo ponto de parada era o meu, levantei, puxei da bolsa um livrinho com uma produção literária da banda alagoana Dona Maria e entreguei ao cobrador dizendo: Vi você comentando sobre autores alagoanos...
O personagem cobrador agradeceu sorrindo, desci do coletivo do mesmo jeito. Ao dobrar a esquina presenciei um pedinte correndo à porta do motorista de uma ambulância velha, dessas de interior, o motorista lhe entrega algumas moedas, o pedinte agradece e se vira. Logo o personagem motorista chama-o novamente. A senhora do carro do ano preto ao lado, viu a cena e puxou uma nota de 1 real.