Moema - Parte 1: Prólogo

Moema sempre que saia pro rio, deitava ao lado da palmeira mais alta e ali descansava horas a fio. Longe de seu povo, seu mundo se transformava na beleza mais doce, na ingenuidade infantil que algumas pessoas de 20 anos ainda conseguem preservar. Neste dia não foi diferente. Ouvindo a brincadeira dos peixes e o canto dos pássaros, Moema dormiu.

Nos primeiros dez minutos, sonhou que em uma outra vida nascera em forma de borboleta, com asas que mais pareciam pétalas de flores amarelas, daquelas de se enfeitar o cabelo e derreter qualquer rapazote desta e de qualquer outra região.

Sendo borboleta, Moema voou delicada por toda a floresta e passeou pelas plantações de morango, até chegar ao Vale das Macieiras e ali descansou, feliz de ser a representação divina de toda a sutileza e perfeição da natureza.

Foi assim por mais três quartos de hora. Entre um suspiro e um sonho, entre um rosto repousado nos braços e um sorriso de olhos fechados: felicidade. Moema não queria mais acordar, sentia-se rainha de toda a primavera. Até que ouviu um cantar estranho, uma melodia bonita e suave ao pé do ouvido, estranhamente ela se sentia protegida e quis perguntar: “Quem é você que canta como cantam meus desejos?”...

“Eu sou o anjo que toca teus cabelos enquanto você dorme, que te acaricia e te faz sonhar. Eu sou o anjo que te suspira felicidade, mesmo que teus olhos carnais não enxerguem. Eu sou a reencarnação do que um dia foi teu ventre, sou tuas sílabas, teus versos e tuas palavras. Eu sou você ontem e te fazendo feliz por todo um amanhã” – Foi a resposta.

Não mais sendo uma borboleta, mas continuando dormindo, imaginou-se princesa num castelo entre nuvens e fantasias. Lá, em meio às paredes de tijolos feitos de vidros e espelhos, Moema se sentia zonza por ver apenas o reflexo de suas vontades. O sapo escritor, a quem nossa heroína consultava sobre as histórias do amor, vivia a galantear sonetos de admiração. Moema lia, mas não entendia. No castelo dos sonhos, nem tudo era alegria.

Lembrou-se o sapo de certo diálogo com seu amigo Canário:
- Cuidado canarinho bonito, cuidado ao cuspir para cima!
- Mas é preciso cuspir, meu caro. Não importa o lado.