Anura corria em direção ao primeiro lugar mais longe possível. Em sua memória existia todo o costume de seu habitat natural. Entre uma passada e um pulo, uma pegada e uma poça, sentia que nada mais seria como antes. De mala e cunha, e o medo agarrado entre os lábios, ele fugia como um touro daltônico em direção ao vermelho.
Finalmente chegou a um lugar desconhecido qualquer, onde se sentia parcialmente seguro. Ali acampou. Puxou da maleta um pequeno caderninho e lapidou alguns próximos versos. As letras, a luz da lua cheia, as sombras das folhas e as linhas do papel, da posição em que se encontravam seus olhos, formaram a imagem de uma moça debruçada em uma janela. E a tal moça morena sorria, mas não um sorriso inteiro, lá dentro de seu sorriso faltava alguém.
Então foi só o pensamento criar asas e Anura podia ver claramente, que aquela moça desenhara um projeto arquitetônico quase perfeito e mandara construir tudo aquilo em algodão feito de céu. Ele sentia o que ela sentia, talvez ela não soubesse, mas com certeza ele sabia.
E assim foram as imagens em seu caderno, página por página. Até que os rascunhos viraram rabiscos e surgiu a primeira palavra:
- Oi!!
- Oi :) - Foi sua resposta, segurando o susto na garganta.
- Tudo bom?
- Tudo sim?
- Cadê que nunca mais te vi?
Anura pulou para trás. "Como assim nunca mais me viu?" - Pensou olhando para aquele diálogo nas linhas de seu pequeno caderno - "Ela sabe quem eu sou?”
- Quem é você? Como é seu nome? Onde você vive? - Perguntou ele em seqüência absurda, mesmo que de certa forma já soubesse.
- Chamo-me Moema e vivo no mundo dos sonhos.
- Já andei nesse mundo e tudo era lindo, mas não sei se quero voltar.
O diálogo varou a madrugada, os dois se gostaram, talvez só como amigos. Falaram do justo e do injusto, dos desejos e de suas coisas preferidas. Não falaram de beijos, mas falaram muito de almas queridas.
Alguns dias depois, após longa noite de sono, Anura acordou e veio seu primeiro pensamento:
- Talvez só como amigos?