Jazeu: A menina dos sonhos de hortelã


Boatos são:
O caos agindo de maneira organizada.

Ela chegou com a nuvem do azar acima da cabeça, como um chapéu de sol furado, por onde desce os pingos d'água. Fazia tempo que se via aquela cena e cada vez mais se apertava o nó do peito, toda vez que entrava em casa. Limpou os chinelos no tapete pelanco da porta da cozinha, repousando-os atrás da grade da geladeira, cortou uma fatia de bolo imaginário como quem quer alegrar o fome. Quem não tem comida, sente só o cheiro do tempero.

Abaixou até o balde com um caneco vermelho, vlup pra cima, glup pra baixo, banhou-se como se fosse apenas uma falta temporária. Pelejou alguns rabiscos num papel que trazia da rua. Folheou um pequeno caderno de retratos desses com a paisagem mais bonita da cidade estampado na capa, como se zombasse toda a tristeza da situação. Enxugou o olho esquerdo, dizendo a si mesmo que era só um cisco.

Um cisco de 7 anos que insistia em incomodar todas as 21h e 14min das noites de segunda-feira. Despencou para trás de cansaço. Jazeu como quem dorme.