A Virgem


Clarrisse olhou para cima. Não entendia bem o que havia acontecido, tentava se apoiar no vento. Ação em vão para levantar-se. Continuou caída, agora recobrando os sentidos. Havia sangue em sua saia branca e justa, não mais transparente por causa da mancha que subia entre suas pernas. Lembrou-se da dor, dos apertos nos braços e do bafo de cigarro daqueles mata-rato. Em coisa de um segundo, desejou ser apenas um pesadelo. Voltou a realidade.

Clarisse chorava contida, envergonhada de seu próprio corpo, de blusinha rasgada e tudo que não lhe cabia direito (em todos os sentidos). Sentia ainda na pele o corpo quente de seu agressor e as palavras torpes ditas ao pé do ouvido, sentiu-se enojada.

Um homem velho, alto e barrigudo, de barba mal feita e cheirando a sovaco. Lembrou-se, com perturbação moral pelo receio do ridículo, que fantasiara algumas vezes vivenciar um estupro, talvez até duplo. Mas não seria daquele jeito, sonhara com um homem bonito, cuja voracidade a deixaria excitada, a dor seria prazer fulmegante e não deixaria rastros de sangue. Qual mulher nunca pensou nisso? Fetiche...

Infelizmente Clarisse percebeu do pior jeito possível que algumas coisas não devem ser sonhadas. Desejou morrer, a dizer a seu namorado que perdera a virgindade.